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Com 31 anos de dedicados ao ensino da geografia no Colégio Diocesano de Caruaru, o professor Newton Augusto é uma unanimidade quando se fala sobre essa importante área do conhecimento. Para celebrar a passagem do Dia do Geográfico – celebrado em 29 de maio – entrevistamos o docente, que fez uma análise sobre o papel que a geografia tem para nos auxiliar a entender melhor o mundo. Para ele, “todo humano é um pouco geógrafo”. Confira:
Professor, como surgiu seu interesse pela geografia?
O interesse pelo conhecimento científico veio antes da graduação e da vontade de lecionar. Sempre tive curiosidade em saber como funciona o universo, a fotossíntese, como a vida evolui, como é a atmosfera, como funcionam as relações humanas. Sob a luz de uma certa racionalidade científica, entendi que geografia é o meu caminho, pois eu adoro ciência. A geografia é uma ciência ousada, pois ela interage, ela se comunica, ela bebe de outras fontes.
Qual o papel do geógrafo?
O geógrafo como ofício é um analista, um pesquisador, um intérprete, ou seja, um decodificador de fenômenos de todas as ordens. Ele pode atuar como professor, mas também realiza pesquisas, levantamentos de dados ambientais, de relações internacionais, geopolítica. Um dos papéis mais importantes que o geógrafo pode desempenhar é através de seu esforço de pesquisa auxiliar no processo de regramento da ocupação do solo urbano. Se os governos contratassem geógrafos para acompanhar esses processos, iríamos nos antecipar a determinados desafios e problemas, assim tornando as relações sociais e ambientais muito mais saudáveis. Isso é levar o conhecimento da geografia a serviço dos humanos. A condição de geógrafo vai muito além do ofício, lá no fundo todo humano é um pouco geógrafo.
Diante de tantas tecnologias e informações das mais variadas áreas a passo de um clique, como você analisa o interesse dos jovens pela geografia?
Em parte sou pessimista, dentro de um cenário no qual o imediatismo e o pragmatismo de jovens em formação que pensam a formação como um caminho a acumular riquezas acabam afasta num primeiro olhar uma possível carreira na área geográfica. Somos todos geógrafos na medida em que nós construímos relações. O que falta muito na sociedade em geral é esse nível de percepção, o quanto a cada decisão que tomamos, análise que fazemos, a gente está sendo um pouco geógrafo. A partir deste ponto, sou otimista, para que cada vez mais os jovens despertem para entender o nosso tempo e o palco de nossa existência.
Ao longo de uma frutífera carreira de mais de 30 anos de ensino, o que mais marcou na sua profissão?
Uma das marcas é, antes de tudo, ser mais aprendiz do que professor detentor de conhecimento, aprender com meus amigos, colegas de trabalho, me inspirar neles. É marcante também receber dos ex-alunos, hoje amigos, o reconhecimento do meu zelo e saber que eu pude contribuir de alguma maneira para que eles despertassem para o mundo da ciência, que eles escolheram ofícios de grande importância para conduzir o mundo e transformá-lo em um lugar melhor.
Houve também marcas mais amplas, pois, quando comecei a ensinar, era um tempo de grandes transformações na geopolítica. Na época, o mundo ainda estava divido na guerra fria. Dois anos, depois veio a abaixo a União Soviética, o mundo foi experimentar uma onda valiosa de democracia. Além disso, tivemos muitas inovações tecnológicas de grande impacto, saímos de um mundo analógico para um mundo digital. Há muita diferença entre a sala de aula de 1990 e de 2021. Ampliamos nosso repertório buscando eficiência no ensinar e no aprender de forma simultânea. Não é nada fácil escolher uma marca, diante de tantas marcas importantes ao longo da minha carreira.